Qual
a razão de alguns embusteiros mandarem e desmandarem no Brasil
Compreender comportamentos é investigação
fascinante, neste painel, a multidão brasileira merece destaque. Por que tamanha
apatia em participar do seu próprio destino? Por que? O sentimento chave para
desvelar tão enigmática postura, atrevo-me a afirmar: o medo. O medo é sentimento ancestral da raça humana, ele
protege a sobrevivência. E viver é preciso. Assim, sobre o medo, exacerbado,
constrói-se o modelo mental da gente brasileira. Gente que, supostamente,
“canta e é feliz“ neste imenso país, lar duma nação de 200 milhões de almas.
Brasil, gigante inseguro. Adormecido e
inseguro, dominado por um punhado de oportunistas amorais que elaboraram o
pérfido sistema protetor dos malfeitos, num mecanismo que garante a esta pseudo
elite poder e intocabilidade, blindada à ações contestatórias. Afinal, tudo é
da lei. O chocante é a submissão da
imensa multidão. Estranha? Incompreensível? Só para àqueles que não procuram refletir
sobre suas razões. E, como quem procura acha, busquemos a raiz desta letargia. Aristóteles
dizia que a palavra cão não morde. Contudo, a palavra medo amedronta, torna o sujeito inseguro. Ora, a sociedade
brasileira foi constituída sobre grupos humanos aflitos pela marca da
insegurança, a partir daí, à indiferença omissa torna-se medida de autopreservação.
O Brasil é um país miscigenado, fruto do amalgama de diferentes culturas e grupos
étnicos. Deste mundo, o pilar central tem a dimensão lusitana, portugueses
achadores desta terra que chamaram de a terra da Verdadeira Cruz (Vera Cruz).
Originários das distantes praias ocidentais da Europa no Portugal, lugar onde o
poder de comando podia se alternar entre um rei católico, árabes ou judeus. Em
quem confiar? Tamanha insegurança com relação ao futuro, levou tal povo ao
movimento de se lançar aos mares nunca dantes navegados. E, ao dar nas costas
do Novo Mundo, em distante longitude encontraram os aborígenes destas paragens
que perplexos foram inseridos numa realidade que jamais compreenderam e que
lhes reservou sofrimento e morte. O seguinte termo étnico-cultural na equação
Brasil são os homens e mulheres chegados da África negra, chegados na condição
sub-humana de escravos na terra selvática estranha e atemorizante. Sós e
indefesos. Depois, muito tempo depois, passados
três séculos desde o achamento das terras brasilis, nelas desembarcam imigrantes europeus ( alemães
e a seguir italianos) numa formidável massa humana. Fogem da desesperança duma
vida de sobrevivência. O destino é desbravar, trabalhar e sobreviver, regrados
por leis e ordens que os conduzem através de uma autoridade desconhecida. Se
nos ativermos a todos estes grupos humanos como sendo conjuntos mentais e
espirituais, é perceptível claramente haver uma intersecção estre eles, o medo.
Temor ao que virá, medo do futuro. Impotência
para decidir suas próprias vidas. O sentimento de estar numa nau onde o capitão
define absoluto todos os procedimentos. Insegurança. Claro, nascida do medo, a
insegurança desenha fortemente o caráter do
vulgo brasileiro. Óbvio, aquele que diante da vida encontra-se amedrontado
e inseguro, optará instintivamente pelo individualismo sobreviventista cuja consequência será a omissão aos interesses
coletivos. Neste perfil, a sociedade abre espaço para usurpadores que a podem
dirigir com autoridade tirânica coberta pelo manto roto da demagogia. É por
isso que no Brasil, diz antigo adágio popular, -manda quem pode, obedece quem
tem juízo. Dá-me náuseas.
JR Vilhena