Centro de Porto Alegre, dê-se valor a quem tem
Quando
caminho pelas ruas centrais de Porto Alegre, lembro sempre dos anos, já
longínquos, nas décadas de 1950 e 1960, tempo da minha infância, onde o mundo
daquele menino ali transcorria. O Centro
significava o esplendor da cidade. Um
lugar lindo, composto por uma vivificante arquitetura eclética. Tempos românticos
cada habitação, por mais simples que fosse, tinha aparência de lar. Prédios monumentais, o cais do porto, o
transitar dos bondes, os lugares de lazer, assinavam uma urbanização elegante. A
pegada do transeunte diário acontecia nas calçadas ladrilhadas, artisticamente elaboradas,
de forma a suavizar a existência cotidiana. Nelas, nas calçadas, crianças
brincavam e, nas noites de verão, punham-se cadeiras para convivência da
vizinhança. Claro, havia as dificuldades da época, mas nada que alterasse a
sensação de bem viver naquele local. O
tempo, contudo, segue sua marcha, e com ela, chegam às mudanças. Inexorável.
Porto Alegre se transformou. No processo
de urbanização do Brasil, multidões migraram à capital do estado, que, diante
da avalanche humana, dobrou a população em 20 anos. Shopping Center concentrou
a atividade comercial entre suas paredes, fazendo minguar o comercio das lojas de
rua, e a insegurança tornou-se importante ameaça ao dia a dia. A decadência do
Centro veio como resultado deste estado de coisas. Para o portalegrense, que participou
deste momento histórico e ama a cidade, aceitar a persistente perda de valor da
região central da urbe, permaneceu num perene sentimento de melancolia e inconformidade.
Nós que aqui estamos por ti esperamos... Vamos concordar, a orientação para
qualificar urbanisticamente a cidade cabe ao poder público. Assim, a
revitalização do centro de Porto Alegre serviu, sempre, como bandeira política
nas eleições municipais. Promessas, promessas. Entre os prefeitos eleitos houve aqueles
indiferentes, houve outros cuja administração deixou, propositadamente, a área se
degradar alegando democratizar o espaço público, e houve ainda administrações
que lançaram esforços na melhora ambiental do centro histórico retirando ambulantes,
desobstruindo vias para circulação de pessoas e ao revitalizar praças no
perímetro central. Sejam louvadas as boas administrações. Contudo, a intervenção
profunda , decisiva no sentido de
restaurar o coração da cidade, faltava. Na
última eleição a alcaide do município, o atual prefeito demonstrou firme interesse
em restabelecer o valor estético e histórico do Centro. Confesso, embora ele possua
currículo de homem honesto e político capaz, não tive fé em sua promessa,
pensei tratar-se de demagogia, afinal, nem gaúcho ele é - traços de xenofobia
na minha personalidade-, lamento. E eis que Sebastião Mello cumpre o prometido.
Isto sim são boas novas para dar alento a um homem de pouca fé. Nos habituais
passeios pelo Centro, me enche a alma de alegria e orgulho ao ver a retomada
estética da área. O viaduto Otávio Rocha assume a imponente beleza, os postes belle
époque da Rua da Praia estão de volta, o pavimento das ruas é revitalizado, logradouros
renovados, demolidos prédios abandonados. O Centro nunca mais será o mesmo,
porém, recebe importante impulso a fim de retomar o lugar digno na cidade, na
qual, ele foi o inicio de tudo. Sim, é possível.
José de
Vilhena