sexta-feira, 19 de janeiro de 2024

 

 Centro de Porto Alegre, dê-se valor a quem tem

Quando caminho pelas ruas centrais de Porto Alegre, lembro sempre dos anos, já longínquos, nas décadas de 1950 e 1960, tempo da minha infância, onde o mundo daquele menino ali transcorria.  O Centro significava o esplendor da cidade.  Um lugar lindo, composto por uma vivificante arquitetura eclética. Tempos românticos cada habitação, por mais simples que fosse, tinha aparência de lar.  Prédios monumentais, o cais do porto, o transitar dos bondes, os lugares de lazer, assinavam uma urbanização elegante. A pegada do transeunte diário acontecia nas calçadas ladrilhadas, artisticamente elaboradas, de forma a suavizar a existência cotidiana. Nelas, nas calçadas, crianças brincavam e, nas noites de verão, punham-se cadeiras para convivência da vizinhança. Claro, havia as dificuldades da época, mas nada que alterasse a sensação de bem viver naquele local.  O tempo, contudo, segue sua marcha, e com ela, chegam às mudanças. Inexorável. Porto Alegre se transformou.  No processo de urbanização do Brasil, multidões migraram à capital do estado, que, diante da avalanche humana, dobrou a população em 20 anos. Shopping Center concentrou a atividade comercial entre suas paredes, fazendo minguar o comercio das lojas de rua, e a insegurança tornou-se importante ameaça ao dia a dia. A decadência do Centro veio como resultado deste estado de coisas. Para o portalegrense, que participou deste momento histórico e ama a cidade, aceitar a persistente perda de valor da região central da urbe, permaneceu num perene sentimento de melancolia e inconformidade. Nós que aqui estamos por ti esperamos... Vamos concordar, a orientação para qualificar urbanisticamente a cidade cabe ao poder público. Assim, a revitalização do centro de Porto Alegre serviu, sempre, como bandeira política nas eleições municipais. Promessas, promessas.  Entre os prefeitos eleitos houve aqueles indiferentes, houve outros cuja administração deixou, propositadamente, a área se degradar alegando democratizar o espaço público, e houve ainda administrações que lançaram esforços na melhora ambiental do centro histórico retirando ambulantes, desobstruindo vias para circulação de pessoas e ao revitalizar praças no perímetro central. Sejam louvadas as boas administrações. Contudo, a intervenção profunda , decisiva  no sentido de restaurar  o coração da cidade, faltava. Na última eleição a alcaide do município, o atual prefeito demonstrou firme interesse em restabelecer o valor estético e histórico do Centro. Confesso, embora ele possua currículo de homem honesto e político capaz, não tive fé em sua promessa, pensei tratar-se de demagogia, afinal, nem gaúcho ele é - traços de xenofobia na minha personalidade-, lamento. E eis que Sebastião Mello cumpre o prometido. Isto sim são boas novas para dar alento a um homem de pouca fé. Nos habituais passeios pelo Centro, me enche a alma de alegria e orgulho ao ver a retomada estética da área. O viaduto Otávio Rocha assume a imponente beleza, os postes belle époque da Rua da Praia estão de volta, o pavimento das ruas é revitalizado, logradouros renovados, demolidos prédios abandonados. O Centro nunca mais será o mesmo, porém, recebe importante impulso a fim de retomar o lugar digno na cidade, na qual, ele foi o inicio de tudo. Sim, é possível.

José de Vilhena

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