O alcance das pichações urbanas (ou tática da guerra cultural)
Muito se tem comentado sobre pichações nos
prédios e monumentos das cidades brasileiras. De fato, são degradantes. Reconheçamos,
fazem parte da decadência urbana no Brasil. Urge entender razões e
consequências deste fenômeno num País onde 85% da população mora em zonas urbanas,
e, grande parte dela, vive em metrópoles ou megalópoles, resultado dum continuo
e desorganizado processo de migração humana. A urbe é uma entidade ecológica, portanto, não
há dúvidas que a condição urbanística influência decisivamente a civilização brasileira.
Já disse o poeta: o homem está na cidade e a cidade está no homem. A partir
daí, é possível tomar consciência dum polinômio estético demolidor do ser
humano. As pichações são um termo de tal equação. A Filosofia ensina que o belo
é o esplendor do bem, agredir a polis resultará na ascensão do mal. Assim, é
possível conectar as pichações-expressão da desilusão, ignorância e
desesperança da juventude-, a arquitetura medíocre e negocial das cidades, o trânsito
ansioso de veículos, o ruído constante do trabalho que nunca conclui, a
poluição visual da propaganda abusiva, a miséria que faz das ruas sua casa e a
ameaça da insegurança, e montar o tenebroso problema de onde advém a caída da
vida urbana no Brasil. Depressão e isolamento são provas cabais deste mundo. Não
é difícil reconhecer a doença, mas exige coragem aplicar a cura. As pichações
urbanas fazem parte da moléstia, sua prática deve ser entendida em todo seu
alcance desestruturante da saúde mental dos moradores da cidade. Não há outra
alternativa senão combatê-la com rigor. Sem demagogias baratas que utilizam o
argumento da liberdade de manifestação ou arte das ruas. Basta deste fingido
sentimento de participação. Dura Lei. As outras agressões estéticas podem ser evitadas
por legislação, educação e vontade política. O importante é barrar a
irresponsável degradação do ambiente urbano que, se a algum propósito serve,
não é a convivência proveitosa dos moradores da urbe.
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