Petrópolis,
mais um ato da tragédia brasileira
Petrópolis é a tragédia. A tragédia
anunciada num país que se define pela desarmonia social e ambiental. A imensa
terra Brasílis, digna de um continente
com enorme população, há de ter especial cuidado com a ecologia, sob pena de
acontecerem desastres humanos, econômicos e ambientais de dimensões ciclópicas.
Neste contexto ameaçador, a penosa cena
da Petrópolis arrasada é demonstração clara das probabilidades. Não é
necessário ser doutor em Geografia para saber que a região Sudeste do Brasil,
principalmente o litoral, situa-se em zona de transição atmosférica, onde
massas de ar quente e húmido vindo de zonas tropicais se encontram com ar frio chegado
do Sul e do Oceano. A consequência é a formação de tempestades tremendas. E
haja chuva, muita chuva. Os povos aborígenes da região já relatavam o fenômeno há
5 séculos. O demônio Anhangá que os atormentava. No Brasil moderno a situação ficou
muito mais complexa, a população cresceu exponencialmente e a monocultura
agrícola somada à alta tecnologia de produção causaram um êxodo populacional da
zona rural para os centros urbanos, digno duma passagem bíblica. O Brasil nos
anos 1950 – contava com 60 milhões de almas-, distribuídas em 60% na zona rural
e 40% nas zonas urbanas, atualmente são 210 milhões de habitantes, dos quais, 91%
vivem no mundo urbano. Nesta transferência de população, as cidades incham com pessoas
chegadas aos borbotões. Gente que encontra um cenário de redução da produção
industrial e diminuição das necessidades de trabalhadores no comercio e
serviços. Sem boas possibilidades de trabalho e desprovidas de lugar para morar,
tamanha multidão busca ocupar encostas de morros e margens de cursos d’água,
pois que são terrenos não ocupados pela cidade formal, entre outras razões, por
serem “Áreas de Risco”! Sujeitas à enchentes e deslizamentos de terras. Essas
ocupações, via de regra, acabam por constituir bairros irregulares, marcos
iniciais da desgraça que provavelmente virá. Tal tipo de utilização do solo diminui a
condição absortiva do mesmo e reduz a capacidade da vegetação frear o
escoamento das aguas pluviais, tanto em encostas como nas margens dos cursos d’água.
As aguas das chuvas, em maior volume e mais velozes, trazem a violência das
forças naturais ao cotidiano das cidades. Resulta daí as centenas de vítimas
humanas e animais, com toda a dor advinda. Materialmente, destrói patrimônio e
exauri finanças públicas. Tragédias
deveriam ensinar, contudo, no Brasil, refletir sobre acontecimentos é algo
incomum. Em breve, a tragédia de Petrópolis será mais uma história esquecida
nos meios de comunicação e, outras, tais quais, sucederão. Afinal, temos
futebol, carnaval e BBB na têvê.
José de Vilhena
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