domingo, 20 de fevereiro de 2022

 

Petrópolis, mais um ato da tragédia brasileira

Petrópolis é a tragédia. A tragédia anunciada num país que se define pela desarmonia social e ambiental. A imensa terra   Brasílis, digna de um continente com enorme população, há de ter especial cuidado com a ecologia, sob pena de acontecerem desastres humanos, econômicos e ambientais de dimensões ciclópicas.  Neste contexto ameaçador, a penosa cena da Petrópolis arrasada é demonstração clara das probabilidades. Não é necessário ser doutor em Geografia para saber que a região Sudeste do Brasil, principalmente o litoral, situa-se em zona de transição atmosférica, onde massas de ar quente e húmido vindo de zonas tropicais se encontram com ar frio chegado do Sul e do Oceano. A consequência é a formação de tempestades tremendas. E haja chuva, muita chuva. Os povos aborígenes da região já relatavam o fenômeno há 5 séculos. O demônio Anhangá que os atormentava. No Brasil moderno a situação ficou muito mais complexa, a população cresceu exponencialmente e a monocultura agrícola somada à alta tecnologia de produção causaram um êxodo populacional da zona rural para os centros urbanos, digno duma passagem bíblica. O Brasil nos anos 1950 – contava com 60 milhões de almas-, distribuídas em 60% na zona rural e 40% nas zonas urbanas, atualmente são 210 milhões de habitantes, dos quais, 91% vivem no mundo urbano. Nesta transferência de população, as cidades incham com pessoas chegadas aos borbotões. Gente que encontra um cenário de redução da produção industrial e diminuição das necessidades de trabalhadores no comercio e serviços. Sem boas possibilidades de trabalho e desprovidas de lugar para morar, tamanha multidão busca ocupar encostas de morros e margens de cursos d’água, pois que são terrenos não ocupados pela cidade formal, entre outras razões, por serem “Áreas de Risco”! Sujeitas à enchentes e deslizamentos de terras. Essas ocupações, via de regra, acabam por constituir bairros irregulares, marcos iniciais da desgraça que provavelmente virá.  Tal tipo de utilização do solo diminui a condição absortiva do mesmo e reduz a capacidade da vegetação frear o escoamento das aguas pluviais, tanto em encostas como nas margens dos cursos d’água. As aguas das chuvas, em maior volume e mais velozes, trazem a violência das forças naturais ao cotidiano das cidades. Resulta daí as centenas de vítimas humanas e animais, com toda a dor advinda. Materialmente, destrói patrimônio e exauri finanças públicas.  Tragédias deveriam ensinar, contudo, no Brasil, refletir sobre acontecimentos é algo incomum. Em breve, a tragédia de Petrópolis será mais uma história esquecida nos meios de comunicação e, outras, tais quais, sucederão. Afinal, temos futebol, carnaval e BBB na têvê.

José de Vilhena


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