sexta-feira, 10 de junho de 2016

Noventa e quatro anos da revolta do Forte de Copacabana 1922-2016

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05 de julho/1922- 2016)

 Noventa e quatro anos da revolta do Forte de Copacabana 


Aprendi que a História é como uma peça de salame, quando a cortamos em fatias, perdemos a noção das suas dimensões. Eis o motivo pelo qual episódios históricos, apresentados sem as conexões devidas, acabam transformados em meros relatos de fatos. Perde-se, aí, o sentido de apreensão de conhecimento disponível que o quebra-cabeças do comportamento humano ensina. Mas, saiamos deste introito macro e apontemos o holofote para o Brasil, mais acuradamente, ao Rio de Janeiro no remoto 1922. O ano de 1922 foi mágico no Brasil. A sociedade brasileira ardia em desejos de mudança. Nestas calendas, precisamente no dia 5 de julho, eclodiu uma revolta militar na capital federal, marcando o início dos desdobramentos políticos, que inexoráveis, acabaram por transmutar o país, fazendo-o entrar no século 20. Todos os acontecimentos políticos relevantes do século passado foram, no Brasil, de alguma forma, influenciados pela epopeia de Copacabana, registrada nas páginas da História do país, como A revolta dos 18 do Forte de Copacabana. Decepção, foi a decepção que a fez eclodir. A República mostrava-se uma farsa, um regime onde as oligarquias econômicas haviam se apoderado das decisões políticas. O estado de corrupção, pobreza e abandono do povo, indignavam a jovem oficialidade do Exército, forjada sob a influência doutrinária do Positivismo. Ordem e Progresso, era o que ansiavam, a realidade mostrava outro mundo. Conchavos políticos governavam o país e sob uma fachada democrática, havia a ditadura dos compadres defendendo interesses cartoriais. Nesta cena, uma carta, supostamente assinada por Arthur Bernardes, então representante dos grupos oligárquicos no poder, e postulante à cadeira presidencial nas eleições de 1922, ultrajava o Exército. Ela serviu como pretexto para o levante de julho na capital federal. A revolta militar, liderada por jovens oficiais (os tenentes), planejava insurgir as tropas no Rio de Janeiro e depor o governo, impedindo Arthur Bernardes de assumir a presidência. A ação, entretanto, fracassou, somente a guarnição do Forte de Copacabana e a Escola Militar (rapidamente debelada) se levantaram. Sozinho e cercado, o contingente revoltoso do Forte ficou sem capacidade de ação, seus comandantes liberam a tropa da luta suicida. Vinte e oito homens permanecem intramuros e são eles os que abrem o portão da fortaleza e rumam na direção do Catete. Durante a caminhada, abandonos acontecem. E quando o embate definitivo ocorre, estavam reduzidos a 18 mártires heróis,-17 militares e 1 civil adesista. No choque com as tropas legalistas apenas 2 homens, entre eles, sobreviveram. O sangue na areia de Copacabana não se derramou em vão. Não foi o fim, era o começo. O início duma jornada. O movimento Tenentista havia sido deflagrado, e exatamente dois anos após, dia 5 de julho de 1924, São Paulo se rebela numa batalha que dura 3 meses. Desalojadas de São Paulo, as tropas revolucionárias permanecem em luta no interior do Paraná, e em outubro do mesmo ano, o terceiro ato do processo acontece na fronteira Oeste do Rio Grande do Sul, onde os tenentes levantam as unidades militares, apoiados por grupos civis. As forças vindas do sul se agrupam aos remanescentes do corpo paulista no Paraná e formam uma coluna revolucionária que cruza o país durante 3 anos, percorrendo 27000 km.  Trata-se da Coluna Prestes, nome pelo qual ficou conhecida após desmobilizada. Estes bravos
desmoralizaram a ditadura civil e deram o suporte militar à revolução de 1930, que vitoriosa, levou Getúlio Vargas ao poder. A Era Getulista moderniza o país, e sua administração política é regionalmente assumida pelos tenentes na missão de interventores. Houve um salto na organização social e econômica do Brasil. Ambições dos antigos caciques políticos e tempos de expansão de ideologias messiânicas conturbaram o governo Vargas e o transformam-no ditador em 1937.  O Corpo Militar, ainda impregnado com o ideal republicano positivista, afasta-se dele e pouco tempo depois do fim da II guerra mundial, outubro de 1945, o depõe pacificamente. No calendário era 1951, quando Getúlio Vargas retorna à presidência através do voto, mas envolvido pela corrupção insidiosa, comete o suicídio no mês de agosto de 1954. A partir daí, o país mergulha na instabilidade e se vê lançado no caldeirão da guerra fria. A intervenção militar de 1964 é o coroamento da revolução positivista iniciada pelos tenentes no distante 1922. Estabelece-se o regime militar, sem vocação totalitária ele trabalha para modernizar e estabilizar o país. Veio o esforço para montar uma infraestrutura renovada, combater a corrupção, dinamizar a economia, dar educação básica para o povo e, claro, combater o comunismo (perigo que realmente nunca existiu). Bem, o regime militar alcançou muitos objetivos e falhou em outros. É a Vida.  Ao esgotar o período militar, retorna triunfante a incensada democracia. O sistema criado pelos gregos antigos seria, crença generalizada, a redenção do país. Na verdade, o factoide de democracia no Brasil, fez ressurgir a Fênix dos interesses obscuros, inimiga do país. Neste ato, grupos sedentos de poder e ouro, assumem o comando das decisões político-administrativas da nação. O Brasil entra num processo deletério. O vicio antigo da corrupção destrói a educação, cultura, equilíbrio econômico.  Corroída e sem rumo, a civilização brasileira vê o surgimento de uma casta dirigente, supostamente eleita pelo próprio povo. É a nova oligarquia, vinda das urnas enganosas.  Mutatis mutantes, a mesma situação vivida na primeira república dos anos 1900. Depois de quase um século do sacrifício em Copacabana, estamos de volta ao começo.  O gigante precisa despertar do sono infantil.


Nomes de alguns dos heróis que mancharam com seu próprio sangue as areias de Copacabana.

Tenente Eduardo Gomes (gravemente ferido, sobreviveu0
Tenente Mário Carpenter
Tenente Nilton Prado
Tenente Siqueira Campos (gravemente ferido, sobreviveu)
Otávio Corrêa – civil
1° Mec. Eletr. José Pinto de Oliveira
Soldado Manuel Antônio do Reis
Soldado Hidelbrando da Silva Nunes

-Trecho de uma carta escrita por Juarez Távora, um dos mais importantes e ativos líderes do movimento tenentista, em 1926 quando preso na Ilha das Cobras:
Será desalentador que após tantos sacrifícios tudo volte a mesma deplorável desordem que nos avilta e aniquila; à mesma opressão mesquinha e degradante que nos envergonha a consciência de homens livres.

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