O
Grande teatro Brasil;
Quando assisto a programas de
pauta política, no rádio ou televisão hodierna, recordo minha infância escutando,
ao lado de minha avó, as novelas do rádio. Obviamente, sem imagem, assistíamos dramas
folhetinescos, onde vozes narravam dramas alheios ao nosso dia a dia. Tudo o
que tínhamos eram vozes do rádio teatro, desta forma faziam-se bandidos, mocinhos,
maldades e bravuras. Ainda que tocados emocionalmente, escutávamos e imaginávamos.
Não havia como participar dos dramas. Passados tantos anos, quem diria, sensação
igual assola-me hoje ao observar a gente brasileira quando assiste programas e noticiários
políticos nos meios eletrônicos de comunicação. É um tal de projetos, leis,
votações e acusações (geralmente verdadeiras), gerando a desinformação pelo excesso
e cujos desenlaces dão-se à portas fechadas A população, a tudo assiste, tocada
por certa indignação, porém, sem reação, incapaz de exercer qualquer atitude
para interferir no desenrolar dos dramas. Como antigamente nas radionovelas, os
protagonistas são desconhecidos (Salvo raras exceções. Alguém conhece os
deputados que participam dos nossos parlamentos?). Ressalve-se contudo, há uma substancial
diferença entre o mundo político brasileiro e as novelas do rádio das décadas
1950-60. Lá, elas passavam pela vida das pessoas, hoje, o drama encenado pelos políticos
determina a vida das pessoas. Naqueles tempos de então, o bem e a justiça por
fim triunfavam, nos dias que correm, bem ao contrário. As vozes de atores e
atrizes das radionovelas entretinham a pacata vida dos ouvintes. Agora, o
espetáculo encenado é personificado por burocratas
desconhecidos e políticos desclassificados.
Não servem mais como entretenimento senão como trama sombria que determina como
cidadãos vivem e viverão. Os brasileiros, da mesma forma de eternos espectadores, jamais sobem ao palco
e, tal qual gado, cumprem seu triste destino no papel de estatística. Como
dizia Lima Barreto, grande literato brasileiro: O Brasil não tem povo, tem
público.
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